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Entrevista a ex-alunos na escola Dr. Mário Sacramento - março 2024 

A equipa do jornal Com Efeito! entrevistou dois ex-alunos da AEMS. Atualmente, Tiago Silva e Miriam Cordeiro são universitários que estão nos cursos de Ciências da Comunicação (1.º ano de licenciatura) e Análises Clínicas (1.º ano de mestrado), respetivamente. 

Pedimos-lhes que partilhassem as suas experiências (positivas ou negativas) e que nos contassem um pouquinho mais daquilo que foi, e é ser um estudante de escola e de universidade.  

Desta forma, podemos observar pontos de vista que em nada se assemelham, ou que vão ao encontro um do outro, dependendo do foco.  

 

Consideras que a escola te ajudou a desenvolver métodos de estudo? 

Tiago: 100%. Ir para a faculdade noutra cidade pode não ser fácil ao início – é preciso criar-se toda uma nova “rotina” – e, ao refletir sobre o meu último semestre, sinto que nunca teria conseguido sair-me bem nos estudos se já não tivesse um método de organização criado durante a escola. No meio de todas as mudanças que vêm juntamente com a entrada na faculdade, seria muito desafiante ter de criar uma “rotina” de estudos do zero.  

Miriam: Sim, ajudou de certa forma, mas teve que haver muita aprendizagem autónoma, porque os métodos ensinados/praticados pela escola não são suficientes., isto porque não se aplicam a todos os tipos de aprendizagem.   

 

Até que ponto esses métodos de estudo são eficazes? 

Tiago: Creio que quando se entra na faculdade (seja qual for o curso) o método de estudo que adotamos nunca é igual àquele que temos na escola. Há sempre certos aspetos que vamos alterando consoante a disciplina e os materiais de apoio que nos são fornecidos. Não obstante tudo isso, penso que o essencial se mantém. Se a forma como organizamos o nosso tempo e o nosso estudo é eficaz enquanto estamos na escola, continuará a ser eficaz na faculdade. 

Miriam: Os métodos que nos são ensinados na escola são apenas eficazes como um modelo muito reduzido daquilo que é necessário para a vida académica. Claro que o método de estudo é dependente do conteúdo curricular de cada disciplina e por isso temos de o adequar às metas que queremos obter. 

 

Que tipo de hábitos a escola te incentivou a cultivar (ler, escrever, estudar, falar em público, procurar fontes credíveis, organização de trabalhos, reciclagem, prática de desporto)? 

Tiago: Sinto que na faculdade – principalmente ao início – pode ser complicado equilibrar a nossa rotina, implementando hábitos saudáveis. É preciso ter-se um pouco mais de autodisciplina, uma vez que já ninguém nos obriga a adotar esses hábitos. Contudo, sinto que a escola me ajudou bastante a manter muitos desses hábitos, como fazer exercício e envolver-me em atividades extracurriculares. No que toca ao domínio académico, sinto que a escola definitivamente me ajudou em diversos aspetos, principalmente nas apresentações orais, na organização do meu tempo e a fazer trabalhos práticos, entre outros. 

Miriam: Sinto que nesse aspeto a escola é, sem dúvida, um local de aprendizagem porque nos introduz a todos esses temas. No meu caso, foi bastante útil principalmente na área de falar em público. Não só relativamente à exposição oral de ideias, mas também no à-vontade de colocar dúvidas e questões sobre aquilo que eu não percebia. Também foi muito útil na parte da leitura, uma vez que me permitiu abrir horizontes por me mostrar os diferentes tipos de leitura, mas principalmente porque ao ler, tanto em português, como em inglês, aumentei a diversidade do meu vocabulário em ambas as línguas. [Na universidade, algumas disciplinas foram dadas em inglês.] 

 

Até que ponto o uso do telemóvel contribuiu para a tua aprendizagem? 

Tiago: Sinto que os dispositivos digitais no geral (maioritariamente o computador e o telemóvel) foram um importante auxílio à minha aprendizagem, tanto na escola como na faculdade: muitas vezes, os materiais dados nas disciplinas (na faculdade, principalmente) são obras (ou excertos de obras) que, com o computador ou o telemóvel, podem ser lidos em formato digital – e é um grande alívio para a nossa carteira (!). Os dispositivos digitais sempre foram, também, um grande auxílio à pesquisa de informação para a realização de trabalhos práticos. 

Miriam: Tendo em conta que sou de uma geração mais antiga, raramente recorremos aos meios digitais para auxiliar a aprendizagem a nível do ensino secundário. Já na faculdade foi uma grande mudança porque praticamente todas as formas de aprendizagem são digitais o que sem dúvida é uma excelente forma de diminuir o gasto de papel e poupar a nível monetário. 

 

Lembras-te de algum projeto/atividade de que gostaste muito? Parlamento, associação de estudantes, desporto escolar, jornal, Erasmus, etc. 

Tiago: Os projetos escolares em que participei que recordo com maior felicidade são, com certeza, o Erasmus + e o jornal da escola. O Erasmus + é um programa fascinante, de tal forma que chega a ser complicado acreditar que realmente existe. É uma oportunidade única para, ainda antes do ensino superior, poder viajar para outros países e conhecer pessoas, culturas e locais novos e emocionantes! Quanto ao jornal da escola, permitiu-me experimenta e explorar toda uma nova área prática a que, de outra forma, não teria tido acesso até muito mais tarde. Por isso, para qualquer pessoa a ler isto que esteja interessado em entrar na equipa, não podia recomendar mais😊 nunca é demasiado tarde para o fazer! 

Miriam: Um momento que me marcou bastante foi a minha ida à Roménia através do programa de Erasmus que, para além da oportunidade que tive de conhecer outros países e outras pessoas, me ajudou a desenvolver o meu nível de inglês e a ser autónoma em condições novas. Além disso, permitiu-me aprender sobre temas muito importantes para a sociedade a nível mundial, como a igualdade de género. 

 

Na escola desenvolveste competências sociais, ecológicas, ambientais, cidadania, solidariedade? 

Tiago: Sim. Das competências mencionadas, sinto que as sociais, assim como a cidadania e a solidariedade, foram aquelas que mais desenvolvi na escola. 

Miriam: Sim. Principalmente as ecológicas e ambientais. 

 

O que te parece mais importante no método de ensino de um professor? 

Tiago: Aquilo que mais valorizo num professor é a capacidade de tornar as aulas interativas e intelectualmente estimulantes. De todos os professores que tive este semestre, aqueles que mais me marcaram foram os que nos permitiram debater e comentar diversos temas nas aulas. Apenas indo às aulas é que podemos aprender e compreender realmente a matéria, e não há nada melhor do que um professor que nos faça ter vontade de ir às aulas, ao tornarmos parte delas. 

Miriam: Para mim, o foco principal de um método de ensino deve ser sempre a certeza de que aquilo que é transmitido é completamente compreendido pelos alunos. Muitas vezes, senti que os professores tinham apenas a sua forma de explicar a matéria, mas que muitas vezes não se adequava à forma que os alunos precisavam que ela fosse transmitida. 

 

Precisaste de apoio em alguma disciplina ou os teus colegas? Como é que esse apoio te ajudou? 

Tiago: Na escola, sempre me baseei muito no apoio dos meus pais e dos professores. Sem ser para o meu último exame nacional, nunca tive explicações. Mas acredito que, por mais que as explicações possam, muitas vezes, ser necessárias, o apoio entre colegas é algo fulcral. Nada melhor do que o espírito de entreajuda. O meu primeiro semestre na faculdade claramente não teria corrido da mesma forma, se não tivesse a ajuda dos meus amigos. Nunca devemos, também, ter medo de pedir ajuda aos nossos professores – afinal, é exatamente para isso que eles cá estão 😊  

Miriam: Sim precisei, mas tive que os procurar fora da escola, uma vez que não tínhamos esse suporte lá dentro. 

 

Consideras que o que aprendeste na escola te ajudou ou foi útil? 

Tiago: Por mais “diferente” que o nosso curso na faculdade seja do curso em que estávamos no secundário, acredito que vai sempre haver pontos comuns entre ambos. Várias partes de matérias que dei este semestre já me eram familiares do secundário, o que é sempre (obviamente) uma ajuda no estudo. 

Miriam: Sem dúvida que foi, porque me deu as bases para a grande maioria das disciplinas que tive no primeiro ano da faculdade. Senti que em relação a outros colegas meus estava muito melhor preparada em disciplinas como biologia e química, devido ao excelente trabalho dos professores que tive no secundário.   

  

Qual é a tua pior e melhor memória da escola? 

Tiago: Hmmm, essa é difícil… Quando penso nos sete anos que passei nesta escola fica complicado escolher apenas dois momentos. Mas diria que a pior memória foi logo nos meus primeiros meses na escola… eu talvez não devesse escrever isto numa entrevista, mas é a vida: no início do meu sétimo ano, ainda estava no período (como qualquer adolescente) de querer adaptar-me e arranjar amigos a todo o custo; também sempre fui muito falador, o que não ajuda. Apanhei a minha primeira (e única, graças a Deus) falta disciplinar, e ainda me lembro de ter ido a chorar para casa.  A minha mãe ainda se riu um pouco à custa do meu dramatismo, mas foi da maneira que aprendi. Quanto à melhor memória, mais complicado ainda fica de escolher. Mas algumas das memórias que recordo com mais felicidade são, por exemplo, a visita de estudo que a minha turma fez no nono ano, com a nossa professora de espanhol, à Galiza, e os dias do Patrono.  

Miriam: A minha pior e melhor memórias na verdade estão interligadas. A pior foi quando recebi a nota do primeiro teste de físico-química em que tive a minha primeira nega da vida, que foi algo que me revoltou bastante, mas naquele momento foi também um incentivo porque me permitiu criar a minha melhor memória que foi, no final do 12.º ano, ter terminado com uma nota excelente. 

 

 

O que destacas na tua relação com os professores/ funcionários? 

Tiago: No geral, a minha relação com os professores e funcionários sempre foi ótima! Em seis anos a frequentar a escola, é complicado reduzir a minha experiência a apenas um par de aspetos; mas diria, certamente, que os docentes e os funcionários sempre se mostraram muito disponíveis a atender as nossas necessidades enquanto alunos 😊 

Miriam: O respeito mútuo. Ao longo dos anos que estive nesta escola sempre fui respeitada pelos professores bem como pelos funcionários. Sem dúvida que foi um ponto crucial para o meu crescimento a nível pessoal porque percebi a importância de respeitar os outros e de ser respeitada. 

 

Como fizeste para escolher o curso/área? 

Tiago: No secundário, decidi estudar ciências e tecnologias, uma vez que era a área que mais me “atraía”. Não é algo que me arrependa, de todo: se o pudesse repetir, não mudaria nada. Contudo, à medida que fui experimentando novas coisas e aprendendo mais sobre mim, percebi que, por mais que gostasse de ciências, não era a minha paixão: assim, fui procurando diferentes opções e refletindo sobre elas, até que um dia me sentei e decidi pesquisar todos os cursos existentes em Portugal. Fiz uma lista dos que me interessavam, e fui riscando até me sobrar apenas um. Para a minha “epifania vocacional” acontecer, o que mais me ajudou foi certamente envolver-me em projetos extracurriculares e, no momento da decisão, realizar listas de prós e contras (sejam mentais ou escritas). 

Miriam: Desde muito pequena sempre soube que queria algo relacionado com o trabalho em laboratório. Por outro lado, também sempre achei piada à forma como os medicamentos atuam no nosso corpo. Então decidi juntá-las e procurei algo que pudesse conciliar estas duas paixões <3  

Acabei por encontrar um tesouro escondido que foi a minha licenciatura em farmácia biomédica, uma licenciatura única em todo o país. Depois de te terminado acabei por escolher o mestrado em análises clínicas para complementar a minha formação de base. 

 

Achas que a orientação da psicóloga te ajudou? 

Tiago: Sendo 100% sincero, sinto que ajudou apenas até certo ponto. Por mais que a orientação da psicóloga seja uma ótima ajuda, não fará todo o “trabalho” de autodescoberta por nós. A meu ver, o ideal será complementar essa orientação com outras atividades que nos façam alargar os horizontes, e explorar possíveis novos gostos/vocações.  

Miriam: Sendo 100% honesta, não me ajudou nada. Digo isto porque no meu caso eu já tinha a plena certeza daquilo que queria, então o apoio vocacional apenas confirmou aquilo que eu já sabia. 

 

Houve algum professor que influenciou a tua escolha do curso/área? 

Tiago: Antes de começar o secundário, tinha já dois professores – de Ciências Naturais e de Física e Química – dos quais gostava muito, a professora Ana Paula Mónica e o professor João Vasconcelos. Tive a sorte de os continuar a ter no secundário, e tê-los tido como professores com certeza contribuiu para a minha decisão na escolha da área. Quanto ao meu curso na faculdade, uma das professoras que mais influenciou a minha decisão foi com certeza a professora Teresa Correia: foi no ano em que a tive como professora que mais me empenhei na disciplina de português: foi também nesse ano que me juntei ao jornal da escola, o que me ajudou bastante a compreender cada vez mais o meu gosto pela escrita criativa e pelas línguas. 

Miriam: Sim, com toda a certeza! A minha professora de biologia, Margarida Patronilho, fez-me apaixonar pelo mundo da biologia. O amor e carinho que esta professora demonstrava ao ensinar-nos foi um fator determinante para a escolha do meu futuro académico porque me mostrou o impacto que poderia vir a ter na vida de outras pessoas.  

 

Em que medida a escola te motivou para seguires o caminho que seguiste? 

Tiago: Por mais que possa soar pindérico, eu acredito que tudo o que nos acontece é, de certa forma, um ensinamento. Assim, por mais que não esteja a seguir um curso diretamente relacionada com a minha área do secundário, sinto na mesma que a minha experiência na escola (incluindo as atividades extracurriculares) me motivou para seguir o caminho que segui. Mesmo assim, sinto que ainda poderia haver mais iniciativa por parte da escola no que toca à escolha de uma vocação. Afinal, somos “obrigados” a escolher uma área no décimo ano, e isso pode limitar-nos bastante. 

Miriam: A escola mostrou-me que sem o ensino dificilmente somos alguém na vida e que há sempre espaço para mais conhecimento. Sempre me incentivaram a alargar os meus horizontes e continuar a aprender. 

 

Sentes que houve alguma área que foi menos trabalhada no ensino secundário e que agora te é necessária? 

Tiago: Uma das maiores dificuldades que tenho neste momento é o facto de, no meu curso, lecionarmos diferentes obras, e de não estar habituado a ler tantos excertos, e tão longos. Mas, sinceramente, acho que uma grande parte deste problema é culpa minha: eu devia ter cultivado mais o hábito da leitura durante a escola. 

Miriam: Sinto que no ensino escolar é muito pouco trabalhada a empatia para com as outras pessoas que é uma característica fundamental para a nossa vida em sociedade. Se houvesse mais pessoas empáticas teríamos muito menos problemas! 

Outras áreas que também faltam muito no nosso ensino são conceitos básicos de política e economia, porque a verdade é que a maioria de nós termina o secundário com 17 ou 18 anos, ou seja, com idade pra começar a votar e, no entanto, sem noção nenhuma da situação económica e política do nosso país. 

 

Sentes falta de alguma coisa da escola? 

Tiago: Sim. Creio que uma das coisas que, por vezes, mais sinto falta é o facto de ter uma rotina estabelecida. Na faculdade, é preciso ter bastante autodisciplina: ninguém nos obriga a ir às aulas, ninguém nos obriga a inscrever em atividades extracurriculares e, quando estamos fora de casa, ninguém vai estar a vigiar de perto os nossos hábitos e rotinas diárias. Lidar com isso às vezes é desafiante, mas, ao mesmo tempo, é também uma das partes mais emocionantes e que mais nos faz crescer. 

Miriam: Sinto muito a falta de tempo livre. Durante a escola, mesmo tendo que estudar bastante ainda tínhamos uma vida para além dos estudos…. Atualmente todos os momentos são propícios ao estudo, seja durante viagens ou até mesmo durante refeições ou convívios de família.   

 

Como foi a adaptação à universidade? 

Tiago: O meu primeiro semestre foi uma aventura: houve partes mais e menos boas, mas no geral foi excelente. É claro que cada experiência é única! No meu caso, fiz amigos fantásticos e adorei a faculdade; vivi inúmeras experiências novas e emocionantes. Contudo, uma das coisas que mais me custou foi estar tão longe de casa durante tanto tempo, num quarto que tenho de partilhar; para além disso, criar uma nova rotina diária também não foi fácil. Mas não há nada que o tempo não resolva, e tudo vai ficando mais fácil com a sua passagem.  

Miriam: Foi um sentimento agridoce, por um lado foi muito difícil adaptar-me a uma nova cidade, novos colegas, uma nova realidade. Por outro lado, foi muito bom para criar a minha independência e tornar-me mais responsável. 

 

Como vês o teu futuro? 

Tiago: Para ser sincero, ainda não tenho a certeza. E não tenho problema nenhum com isso. Agora preocupo-me em investir em mime nos meus estudos, para poder aprender cada vez mais sobre o que gosto: acho que só assim é que posso saber que tipo de futuro realmente quero. Mesmo assim, já tenho uma pequena ideia: quero poder trabalhar em algo que estimule a minha criatividade e o meu potencial diariamente, e, acima de tudo, algo em que possa ter um impacto nos outros. Gostava de ter a liberdade de viajar, e de poder passar tempo com quem mais adoro 😊 

Miriam: A expectativa é conseguir trabalhar na minha área e ser feliz naquilo que faço, mas até terminar o curso é muito difícil fazer essa projeção para o futuro por ser tudo muito incerto.

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