Agrupamento de Escolas Dr. Mário Sacramento, Aveiro
junho 2024
edição n.º 4 - on-line
Saúde mental nos jovens
Joana Santos Oliveira, 11.º F
As questões de saúde mental entre os jovens são uma preocupação cada vez mais recorrente nos dias de hoje. A recente época de pandemia e o aumento do isolamento social desencadeou problemas de angústia, depressão, abandono de interesses, que levaram os pais e a sociedade a acordar para uma juventude entristecida.
Recorrendo a alguns dados recolhidos no site da Organização Mundial de Saúde, ficamos a saber que metade de todas as condições de falta de saúde mental começam aos 14 anos de idade e, na maioria dos casos, não é detetada nem tratada. Em todo o mundo a depressão é uma das principais causas de doença e incapacidade entre adolescentes e o suicídio é a terceira principal causa de morte entre adolescentes de 15 a 19 anos. Estes dados prendem-se com diversas causas, nomeadamente questões relacionadas com a identidade sexual, a utilização excessiva das tecnologias, provocando dependência e isolamento, com diversas formas de violência, dificuldades socioeconómicas, exclusão social, entre outras.
Apesar de ainda haver algum preconceito associado às doenças mentais, este é um tema cada vez mais presente e discutido nos grupos juvenis. Contudo, a reflexão e a sensibilização ainda não abrangem o grupo significativo de jovens que tem necessidade de receber apoio ou apenas de tirar dúvidas. Neste sentido, seria fundamental disponibilizar mais recursos para que esta questão não seja vista de forma tão preconceituosa, nomeadamente disponibilizando gabinetes de apoio nas escolas com profissionais que possam falar, tirar dúvidas, refletir com os jovens ou até proporcionar grupos de diálogo e discussão, para que este tema seja visto como um tema mais premente e relevante.
Além disto, também o Sistema Nacional de Saúde deveria proporcionar recursos para que as questões de saúde mental nos grupos juvenis fossem abordadas de forma mais metódica e organizada, no sentido de prevenir situações que se podem tornar irremediáveis, como por exemplo o suicídio.
De acordo com Vera Ramalho, numa crónica editada a 17 de abril de 2024, “nem todas as pessoas querem ou precisam dos fármacos sendo a psicoterapia uma alternativa eficaz em situações ligeiras e moderadas”, o que confirma a necessidade de garantir, especialmente aos jovens, o acesso a serviços e a especialistas de saúde psicológica de forma a melhorar a qualidade de vida dos futuros cidadãos.
“Ler é sonhar por mão de outrem” –
Fernando Pessoa
Madalena Guerra, 11.º F
Nos dias de hoje, estamos rodeados por vários meios de aceder ao conhecimento. Porém, a sociedade atual parece nem sempre saber aproveitá-lo da melhor forma, deixando-se invadir por determinados hábitos e por formas fáceis de entretenimento que nem sempre contribuem para o seu efetivo desenvolvimento.
Os livros foram, são e serão um excelente meio de adquirir conhecimento diverso, uma vez que se difundem de diferentes formas, apresentam variados estilos e géneros, havendo maneira de agradar a todos. Segundo alguns estudos, nos últimos anos tem-se vindo a registar um aumento da compra de livros por parte dos jovens (muitas vezes, influenciados por recomendações de figuras públicas ou até mesmo devido às leituras propostas pelo Plano Nacional de Leitura). Contudo, tal facto não significa que existam verdadeiros hábitos de leitura.
Atualmente, muitos deixam de lado os livros, privilegiando as tecnologias por serem mais apelativas e exigirem, aparentemente, menos esforço. Porém, a leitura desenvolve competências variadas e estimula bastante o cérebro, abrindo a mente a novas realidades, permitindo aceder ao mundo dos outros e dando a possibilidade de viajar sem sair do mesmo lugar, contribuindo para a nossa evolução e para o nosso crescimento pessoal e intelectual. Aquele que lê, provavelmente, terá uma mente mais aberta, será mais criativo e atingirá horizontes mais longínquos do que aquele que se deixa apenas influenciar pelas tecnologias e fica “preso” ao ecrã. Neste sentido, importa não deixar que a nossa sociedade se torne refém das inovações tecnológicas, pois, se estas têm, de facto, um papel importante nas nossas vidas, também captam de tal maneira a atenção das pessoas que as priva de apreciar e viver o “mundo real” e de desenvolver as suas capacidades de interpretação, de escrita e até mesmo de estabelecer uma boa comunicação com o outro.
Concluindo, importa desenvolver estratégias que motivem e promovam mais a leitura, desde tenra idade. Tendo em conta que esta nos permite aceder a outras realidades, a outras formas de pensar, de ser e de estar, fazendo-nos sonhar e desenvolver a nossa criatividade, devido à panóplia de realidades e perspetivas que nos apresenta, podemos mesmo afirmar que “Ler é sonhar por mão de outrem”.
Os Desafios da Adolescência
Beatriz Milheiro Costa, 11.º F
Será a adolescência o período mais desafiante das nossas vidas? Esta é uma questão muito pertinente na atualidade, cuja resposta não se obtém facilmente nem é linear. Este é um período da nossa vida, durante o qual enfrentamos muitas situações desconfortáveis, que nos obrigam a sair da nossa zona de conforto.
No meu ponto de vista, uma das principais fontes de inquietação prende-se com a pressão académica, que pode ser exercida pelos pais ou professores. Quando isto acontece, os adolescentes sentem-se pressionados e injustiçados, pois, por vezes, o seu esforço não é reconhecido. Por exemplo, no final de cada ano letivo, muitos pais mostram-se insatisfeitos e descontentes com os resultados dos seus filhos, fazendo-os sentir imperfeitos e pouco inteligentes.
Ainda na minha perspetiva, outro obstáculo que os jovens encontram é a forma como se relacionam com os outros, sejam estes da mesma idade ou não. Fazer amizades verdadeiras e duradouras é algo que qualquer adolescente ambiciona, o que nem sempre é fácil. A prova disso é que muitas pessoas para serem aprovadas ou aceites são levadas, por vezes, a cometer atos irracionais.
Outro contratempo que considero extremamente desafiante, são as preocupações com o futuro. Estas podem vir da incerteza de ter escolhido o curso mais indicado, assim como do eventual ingresso na universidade.
Em conclusão, de facto a adolescência é um período das nossas vidas em que se enfrentam muitas adversidades e desafios. Apesar disso, estas adversidades e desafios podem também ser benéficos, pois obrigam ao desenvolvimento da personalidade, da maturidade e da resiliência dos jovens.
Ice Merchants
Rita Neves 7.º D
Ice Merchants é uma curta-metragem portuguesa realizada por João Gonzalez, lançada nos cinemas a 16 de fevereiro de 2023 e agora disponível na HBO. Esta curta-metragem não utiliza diálogo, sendo todas as ideias e emoções transmitidas a partir das imagens e música também produzidas por João Gonzalez. Ice Merchants significa mercadores de gelo. Antigamente não existia gelo de fácil acesso, e, por isso, certas pessoas, que viviam nos locais mais frios, durante a noite faziam gelo para na manhã seguinte venderem na cidade. Esta profissão está relacionada com o filme pois uma das personagens principais é um mercador de gelo.
Nesta curta-metragem existe uma família, constituída por um pai e um filho. Eles têm uma rotina diária, numa casa de madeira frágil localizada na encosta de uma montanha. De manhã, quando acordam, saltam de para-quedas para ir à cidade vender gelo, voltam para casa, o menino anda de baloiço, têm uma refeição aconchegante e acolhedora, tomam um chá com a lareira acesa e preparam o gelo para o dia seguinte.
O primeiro fator que nos querem transmitir é o sentimento de perda. Durante o filme vamos interpretando as pistas que nos deixam. Por exemplo, saltarem de paraquedas. Esta atividade requer coragem pois, sempre que pensamos nela ou em fazê-la, ficamos com medo, instabilidade e insegurança porque não sabemos o que é que pode acontecer se nem tudo correr como planeado. De uma certa forma isto está relacionado com a morte, o risco, medo e coragem. Outro exemplo é o baloiço. O menino anda de baloiço todos os dias, mas não é num baloiço qualquer. Este baloiço específico situa-se numa encosta, se o menino cair pode morrer, daí transmitir-nos os mesmos sentimentos do paraquedas. Enquanto acompanhamos o dia-a-dia do pai e do filho ficamos sempre
com a sensação de que falta alguma coisa, com a música a completar essa ideia. Durante o filme percebemos que o pai e o filho têm uma cor específica, vermelho e laranja, mas observamos também sinais característicos com a cor amarela. Quando eles saltam de paraquedas levam sempre dois chapéus na cabeça, vermelho e laranja, e, como seria de esperar, quando saltam os chapéus voam e têm que comprar uns iguais quando chegam à cidade. Estes chapéus curiosamente vão parar sempre ao mesmo sítio, criando uma montanha de chapéus. Nessa montanha de chapéus a primeira camada tinha as três cores amarelo, laranja e vermelho. Tal como as chávenas no momento de chá deles à noite. Na parte de baixo da torre predomina o amarelo apesar de haver a presença do vermelho e laranja. Ao longo da subida da torre o amarelo vai desaparecendo lentamente até que ao pico do monte só há vermelho e laranja. Isto confirma a teoria da falta de alguém, neste caso da mãe. Era uma coisa que a mãe fazia e então o pai e o filho continuaram com a tradição em honra da mãe, e para senti-la mais perto deles.
O segundo fator que a curta-metragem aborda é a poluição. Neste é preciso mais atenção, a temperatura começa a aumentar muito, como o termómetro na parede da casa. A água deixada durante a noite deixa de congelar. A neve começou a derreter e a cair sobre a casa, já frágil. A casa começou a abanar e a inclinar-se pronta a desabar. Com isto o pai pegou no filho para saltarem de paraquedas, mas quando se apercebeu o paraquedas já tinha caído, e deduziu o que tinha de fazer. Com lágrimas nos olhos, com o filho enroscado em si, abraçou-o, virou-se de costas para a descida e deixou-se cair. Abraçados na queda, veio a mãe, abraçou-os com os seus grandes membros e abriu um paraquedas imaginário. A tela fica preta como se tivessem adormecido e quando acordaram estavam no monte de chapéus colhidos durante todos estes anos.
O que devemos retirar e aprender desta curta-metragem é que a vida tem muitas emoções más e boas (paz, amor, nostalgia, tristeza, perda) e há que aceitá-las. Também devemos valorizar quem temos ao nosso lado e não tomar ninguém por garantido.
março 2024
edição n.º 3 - on-line
Por que deves ler?
Ana Ferreira, 7.º A
Penso que a leitura é muito importante, tanto para adultos, como para crianças, e também para adolescentes. Além de ser muito crucial é mais saudável que algum meio eletrónico. É uma boa opção para qualquer pessoa que não queira estar tão apegada ao telemóvel, ao computador, à televisão. A leitura é muito variada e os livros têm várias categorias: a banda desenhada, a literatura, a poesia, entre outros.
A literatura permite-nos entrar numa realidade diferente e consegue distrair-nos de todos os problemas possamos estar a enfrentar. Quando estamos a ler, tanto podemos chorar, como rir, e permite-nos experimentar qualquer sentimento e dá-nos uma experiência única. A leitura também nos pode ajudar na escola, pois com ela podemos adquirir todo o tipo de conhecimento.
Do meu ponto de vista, todos deviam ler! A leitura é mesmo essencial no nosso desenvolvimento.
O que foi Taizé para mim
Fundada em 1940 pelo Irmão Roger, a Comunidade de Taizé começou por acolher judeus e refugiados da Segunda Guerra Mundial. Atualmente, é composta por mais de oitenta irmãos de diversas nacionalidades, representando os ramos tanto Protestante como Católico da religião Cristã. A vida nesta comunidade é centrada na simplicidade e na oração. Todas as semanas, jovens e famílias de todo o mundo visitam Taizé (em França) para participar na simplicidade desta vida comunitária. Na semana de 10 a 18 de fevereiro foi a nossa vez.
A maioria das pessoas que já tinha ido a Taizé, no regresso trouxe memórias e experiências que descreviam como mágicas. Por isso, ao ir a Taizé, as nossas expectativas eram altas. Uma coisa que não nos dizem (porque no final perde relevância) é que o período de adaptação é o mais complicado e distante de tudo o que se possa adjetivar como “mágico”. O dia começa cedo, a temperatura exterior é baixa, a camarata não é do mais aconchegante que existe, não se conhecem alguns dos colegas que estão ao nosso lado e as condições sanitárias não são as melhores. No entanto, o período de adaptação é provisório e o sentimento de arrependimento gerado inicialmente também. À medida que os dias vão passando, o desconforto é substituído por um sentimento de pertença.
O dia é constituído por três orações diárias, uma de manhã, outra antes do almoço e outra depois do jantar. As orações são diferentes do que imaginamos de início. No que pensamos que seria um momento de apenas leitura, tédio e pouco envolvimento, fomos surpreendidos com música, diversidade, abrangência e reflexão. A comida é simples como o lugar e é reduzida ao essencial. As tarefas diárias a realizar são as necessárias para a comunidade funcionar. Em Taizé, apesar de termos sido acolhidos numa comunidade repleta de pessoas que desconhecíamos, acabamos por estar todos ligados pelo mesmo aspeto: juventude. Testemunhei o que foi, para mim, uma das melhores coisas que a juventude pode fazer a um lugar, dar-lhe vida, ânimo e um sentido. O envolvimento entre jovens gerou um clima de alegria, união, amizade e alento.
A aldeia de Taizé está completamente rodeada de paisagem verde, constituída principalmente por vastos prados e plantações e viam-se ainda algumas casas ao longe. O sentimento de estarmos tão isolados do resto do mundo e tão distantes do que é a nossa realidade atual dá-nos um sentimento de total despreocupação, como se expectativas exteriores não tivessem de ser superadas e horários não tivessem de ser cumpridos.
A última oração em que participámos foi a mais especial que Taizé tinha para oferecer, a ‘Oração das Velas’. Para além da igreja ter sido envolvida de cânticos, melodia e união, entregaram-nos, no início da oração, pequenas velas que lentamente foram sendo acesas e iluminaram a igreja por completo. Foi extraordinário ver pequenos focos de luz a serem acesos uns pelos outros, pouco a pouco. Para mim, a experiência que vivi em Taizé resumiu-se muito àquele momento, estar sentada ao lado de pessoas com quem partilhei a minha semana e ver que conseguimos estar todos unidos por algo tão simples como o amor e a partilha.
Confesso que gostaria de ter permanecido em Taizé mais alguns dias, no entanto a saudade que sentia do conforto da minha casa ajudou a que a despedida não fosse tão difícil. Taizé foi e será sempre para mim um lugar de aprendizagens, amizades, divertimento e, sobretudo, magia.
Lara Soares (11.º F) – 25/02/2024
Phones @ school
Most Portuguese schools don’t allow students to use their phones during class. Of course, this can vary from use and teacher. For example, some teachers may allow students to use the calculator on their phones for a specific use, while others would never do that. In my opinion, teachers and schools shouldn’t say that it’s against the rules to use phones during lessons because phones have become as useful a study tool as any other.
Meanwhile, I can also perfectly understand why schools might be afraid to implement this. Due to recent technologies like chat GPT some teachers think that giving students permission to use these tools means that they will be less creative with their work and just copy whatever they find first. And of course, there is also the possibility of students using their phones to play games or watch movies in class. For this situation to be controlled, punishments should be implemented for those who use their phones for non-study purposes and for those who copy, which can be easily detected due to the availability of websites and software made to do just that.
In addition, if teachers use classes like tic for teaching students how to use artificial intelligence responsibly and effectively instead of wasting time on teaching students how to make a power point which anyone can figure out on their own by simply watching a YouTube video, that would help develop skills that students can and will use in future tasks like writing a job application, for example.
In conclusion, I think that schools should invest and incentivize the usage of technology instead of restricting and forbidding it.
K.V.
The eating habits of our generation
Nowadays, there are all kinds of different opinions on teenagers eating habits. Some people say that teens are extremely unhealthy and that they are always eating fast food, while others say that teens are super healthy.
According to a study done by UNICEF, “21 per cent of school-going adolescents consume vegetables less than once a day; 34 per cent eat fruit less than once a day; 42 per cent drink soft drinks daily; and 46 per cent consume fast food at least weekly”. This is why encouraging healthy eating habits in teenagers is so important. To establish good eating habits there are three main steps that should be taken:
® Limiting fast food intake;
® Role modeling. If parents eat healthily then they will influence their children to do the same;
® Creating a healthy food environment at home by making sure that teens always have healthy ingredients at home. This will incentivize them to eat healthier and instead of snacking on things like chips, they might eat more apples, for example.
K.V.
Webgrafia: · Nutrition in middle childhood and adolescence | UNICEF, · Eating habits of teenagers. (perplexity.ai).
Leandro, rei da Helíria, peça de Alice Vieira (Crítica)
Filipe Monteiro (n.º 7), Guilherme Nascimento (n.º 8),e João Santos (n.º 10) 7.º H 16/02/2024
No dia 8 de fevereiro, no belíssimo Auditório do Centro de Congressos de Aveiro, a companhia de teatro “Actus” apresentou, a todos os alunos do 7.º ano de escolaridade do Agrupamento de Escolas Doutor Mário Sacramento, a incrível peça “Leandro, rei da Helíria”, escrita por Alice Vieira. E não desiludiu…
A peça foi muito bem executada, como era possível ver nas reações do público, que desde muito cedo esteve bastante animado. A história foi respeitada, tal como os personagens que foram perfeitamente representados pelos atores. Não só os atores, como a equipa técnica estão de parabéns, estando a luz e os efeitos sonoros ao mais alto nível, assim como a música, que entrava sempre nos momentos certos. E nem os pequenos detalhes foram ignorados, como se pôde ver em momentos como quando as cortinas caírem, revelando os bastidores, numa fase da história em que Violeta (filha mais nova do rei) revelava a seu pai que era ela quem o tinha acolhido.
Dito isto, a história teve também, mesmo que poucos, alguns pontos mais fracos como os cenários que eram bastante limitados (isto sem levar em consideração as condições da companhia). A história original foi também muito cortada, tirando algum do carácter e, principalmente, da comédia que esta possuía.
Uma maneira de evitar estas pequenas falhas seria elaborar um pouco mais os cenários, por exemplo, pequenos vasos serem colocados nas cenas que se passam no jardim. A história ser menos cortada, principalmente as piadas, seria, apesar da duração com que a peça ficaria, uma boa maneira de deixá-la ainda melhor.
A peça, apesar de ter alguns detalhes mais fracos, é muito boa, sendo capaz de cativar qualquer pessoa, o que nos faz recomendá-la, pois quem não vir “Leandro, rei da Helíria” está a perder muita coisa!
edição de novembro 2023
Deixem-nas ser simplesmente… crianças!
Tiago Esperanço, 11.º G
A atualidade permite-nos ter acesso a uma quantidade sem fim de informação. Quase que poderíamos estar 24 horas acordados, entre redes sociais, mensagens, notícias na televisão ou na internet, a tentar ler e ver tudo. Tudo aquilo que se passa à nossa volta quando, mesmo assim, as nossas vidas continuam como se nada fosse. Sem tecnologias que veiculam informação não seríamos capazes de contextualizar ou entender o que está à nossa volta, por vezes mesmo aqui ao lado. Por isso é que vivemos tempos que nos obrigam a falar, a tomar posição, a partilhar o que nos vai na alma, mesmo que não saibamos muito bem do que estamos a falar ou não percebamos o que está verdadeiramente em causa.
As guerras que estão a acontecer no Mundo e que vemos todos os dias entrarem pelos ecrãs das nossas televisões ou pela internet são o reflexo do puro egoísmo do Homem. Todos os dias, milhares de crianças se veem obrigadas a abandonar as suas casas, os seus pertences e, muitas vezes, os seus pais. Outras ainda, acabam por morrer, ou ficam seriamente feridas e com deficiências físicas para o resto da sua vida, devido a guerras de interesses entre nações.
Assim, seriam precisas muitas linhas ou talvez páginas para escrever sobre o flagelo que estas crianças sofrem para serem simplesmente… crianças. Roubam-lhes a inocência, a paz, as brincadeiras, o sorriso… a vida. Ser criança deveria ser sinónimo de tudo isto, estar em paz e harmonia com a família que, face a estes conflitos, deixa de existir para dar lugar à destruição, à tristeza e à morte. Sou um jovem feliz por ser apenas um jovem que vive… Como é óbvio, nunca senti o desespero, a ânsia e o medo que estas crianças, e outras por esse mundo fora, sentem diariamente. Deixem-nas ser simplesmente… crianças!
Quando fecho os olhos, o único cenário que imagino, é ter cerca de sete anos de idade e não saber a razão pela qual milhares de homens passam carregados com armas, disparando sobre outras pessoas, destruindo famílias e sonhos que ficarão por concretizar. Por respeito à memória destas crianças, que infelizmente passam por estas situações e por todas aquelas que morrem em nome de uma guerra na qual não escolheram estar, faço um apelo, um grito: Deixem-nas ser simplesmente… crianças!
edição de maio 2023
A Bela de “A Bela e o Monstro” tem síndrome de Estocolmo?
Raquel Cordeiro, 9.ºE
A Bela de “A Bela e o Monstro” tem síndrome de Estocolmo?
Já ouviste falar sobre esta teoria?
Todos nós conhecemos o filme “A Bela e o Monstro”. Uma menina destemida que vai à procura do seu pai. Quando o descobre preso, troca de lugar, para este ir em segurança para casa. Bela abdica da sua liberdade em prol do pai. Assim, fica num grande castelo com o Monstro. No meio de discussões e momentos de amizade, os dois acabam por se apaixonar e quebrar o feitiço com o beijo do amor verdadeiro.
Uma história de amor encantadora. Mas como em todos os filmes de animação existe uma teoria, este não iria ficar de fora.
Será que a Bela desenvolveu síndrome de Estocolmo? *
O que é que esta história tem a ver com o filme? - perguntam vocês.
A Bela foi mantida em cativeiro durante algum tempo, e o seu raptor era o Monstro. Todos nós sabemos que no início ele era rude, bruto e agressivo com ela e pouco lhe importava se ela estava bem ou se comia. Neste momento, a rapariga desenvolve sentimentos pelo Monstro, e ambos começam uma amizade, que mais tarde se transformará em amor.
Mas será mesmo amor, ou será que estamos a incentivar a romantização do abuso?
Agora é a altura em que as pessoas vêm com o mesmo discurso: “Talvez se olharmos bem consigamos ver o lado bom do Monstro. Ele até tinha motivos para ser assim, porque só queria voltar a ser humano e sentia-se sozinho. Para além do mais a Bela fazia coisas que despertavam a ira dele. O que ela estava à espera?”
Agora eu pergunto: É isso que é o verdadeiro amor?
Não conseguimos dizer exatamente que a Bela desenvolveu síndrome de Estocolmo, porque a Disney nunca o confirmou, mas conseguimos associar alguns comportamentos dela com os dos reféns e daí criar a teoria.
No final de contas, eles os dois amaram-se e tiveram um “felizes para sempre”.
Porque no fim é isso que interessa, o amor incondicional, o beijo verdadeiro, a ilusão que os filmes querem transmitir de um casal perfeito, não é?
E mais uma vez, vinha um grupo de pessoas dizer: “Quem é que quer saber se ela esteve presa ou se ele a maltratou? O que importa é o final.”
E mais uma vez eu digo que deveríamos querer saber todos. Mas não, estamos demasiado preocupados com o “e viveram felizes para sempre” que nos esquecemos do resto.
Amar uma pessoa incondicionalmente não quer dizer que ela seja o certo para nós.
Mas pelos vistos, foi o certo para a Bela e o seu príncipe.
Colagem de Raquel Cordeiro, 9.º E
* O que é síndrome de Estocolmo?
Em Estocolmo, capital da Suécia, a 23 de agosto de 1973, na abertura de um banco, Jan Olsson, invadiu o sítio com uma metralhadora e deteve quatro pessoas como reféns. Este exigiu que soltassem Clark Olofsson, um preso seu amigo, mais um carro e dinheiro em troca dos prisioneiros.
No segundo dia, um dos prisioneiros ligou ao segundo ministro a pedir que deixassem os raptores irem e que gostaria de ir com eles. Seis dias depois, a polícia conseguiu pôr fim ao rapto e prender o criminoso. Jan Olsson foi condenado a 10 anos de prisão e Clark Olofsson a seis. Mais tarde em entrevistas que deu, Jan disse que não conseguiu matar os reféns porque tinham ficado próximos. Um dos reféns afirmou que muitas vezes tinha de se esforçar para se lembrar de que os criminosos não eram seus amigos, mas sim criminosos. No julgamento, os ex-reféns recusaram-se a testemunhar e ainda arrecadaram fundos para ajudar os prisioneiros.
Para as pessoas de fora, os que antes estiveram presos tinham enlouquecido, pois estavam dispostos a ajudar os seus raptores e a defendê-los.
A partir desse dia, esta resposta psicológica acabou por ficar conhecida como "Síndrome de Estocolmo".
Aconteceu hoje, sábado, dia 9 de novembro
Rita Almeida, 10.ºG
Como é habitual, este sábado de manhã, eu tive treino de karaté. O pavilhão dos treinos fica em frente à CERCI de Ovar. Então, posso dizer que, de vez em quando, tenho pequenas interações com pessoas de lá. A CERCI é um espaço para aqueles que têm algum tipo de deficiência intelectual e, como é de esperar, neste tipo de locais, encontramos todo o tipo de situações, de pessoas e de histórias diversas.
Lembro-me de, um dia, um velhinho que estava a dar um passeio na zona exterior do edifício se assustar comigo por estar vestida com o fato do karaté. Lembro-me de um menino vir falar comigo ao portão, porque queria vender-me um pirilampo mágico e depois saiu a correr cheio de alegria por lhe ter dado dois euros em troca do brinquedo. Entre muitas pessoas com quem já convivi, o que mais me marcou foi o senhor José. O senhor José era dos mais jovens, tinha por volta de quarenta anos e estava lá, porque tinha sofrido um esgotamento mental intenso. Ele falava comigo quase todos os sábados, contava-me como era o seu dia, falava-me dos seus colegas, da sua família e contava-me histórias da sua vida, pelo menos daquilo que ainda se lembrava. Ao longo de praticamente um ano, sempre tentei melhorar o dia do senhor José, visto que a situação em que ele se encontrava fazia-me sentir que deveria dar-lhe alguma atenção. É muito triste como alguém pode perder a sua sanidade por desgaste e ficar condenado a viver num sítio daqueles para toda a sua vida! Porém não imaginava que, a partir deste sábado, as coisas mudariam. Por coincidência, encontrei a funcionária de lá e perguntei-lhe pelo José, visto não o ver há algumas semanas. Ela disse-me que ele tinha sido levado para outra instituição, ou seja, ele já não ia mais lá estar. Na altura percebi que nunca mais o ia ver, até porque nem eu, e muito provavelmente nem ele, fazemos a mínima ideia de onde está. Ainda assim, sinto-me bem, porque sei que fiz o que está certo enquanto ele lá esteve.
Por isso gostaria de reforçar a importância que tem para estas pessoas fazermos um esforço por elas e que o que para nós é fácil, como falar-lhes, pode significar muito.
Aconteceu hoje
Iara Paulino, 10.º H
Estava eu deitada a preparar-me para dormir, quando, sem razão alguma, inúmeras questões invadiram a minha mente. Questões sem resposta aparente como: "Será que temos alma?"; "Qual o sentido da vida?"; "Haverá sequer algum sentido da vida?".
Após pesquisar e refletir sobre estas questões, a conclusão que achei ser a mais correta foi uma frase de Gordon W. Allport na qual consta: "Viver é sofrer e sobreviver é encontrar um significado no sofrimento." Mas será este o real sentido da vida? Afinal o que é viver? Para quê buscar uma coisa que nem sabemos se existe? Questões que nunca virão a ser respondidas. E tal facto é intrigante.
Notei que já estava a pensar demais e que não valia a pena estar em busca de respostas, logo mais valia acabar o dia e ir dormir. E assim fiz.
O que sucede depois
Beatriz Marques, 12.º B
Neste mundo, existe uma infinidade de pessoas que tem a ousadia de afirmar que só damos valor ao que temos assim que o perdemos, mas será toda a gente assim tão dogmática no que toca a isto?
Para mim, Beatriz, isto sempre foi algo que só as pessoas com grande experiência de vida diziam aos mais jovens, para lhes tentar incutir o valor que devemos dar a tudo o que temos, a tudo o que conquistamos e até a tudo o que não nos parece tão agradável. Desde pequenina acreditava que não conseguiria viver se perdesse a minha boneca, se estragasse a minha cozinha de brincar ou até se ficasse sem o meu carro da Barbie, mas nunca me passou pela cabeça ter de conseguir viver sem o meu melhor amigo.
Em março de 2021 a minha vida deu uma grande reviravolta, ou como dizem os ingleses, um “plot twist” porque comecei de facto a apreciar as mínimas coisas que fazia, a mínima aragem de vento que por mim passava, o mínimo sorriso que um idoso na rua me dava e até o mínimo ar que respirava. Foi um ano de mudança, não vou mentir, mas não devido a lágrimas de Portugal nem a lágrimas de mães que tornam o nosso mar salgado, foi um ano de mudança devido às lágrimas de uma menina que perdera o seu avô.
Para quem me pergunta se custa a habituar, respondo de coração aberto que habituar não é uma palavra que conste no dicionário desta nova etapa, mas que a dor atenua progressivamente. Conto também que é uma experiência pela qual todos os sete bilhões de homens passam mais do que uma vez na vida, aprendendo a lidar com ela e a encará-la de diferente maneira.
Basicamente, esta perda moldou a pessoa que sou hoje e que quero ser no futuro, fez de mim uma adolescente menos cética em relação à afirmação inicialmente referida e também me tornou no orgulho do meu avô. Penso hoje que devia ter dado ouvidos aos mais vividos, e mais importante, ter dado mais valor ao que tomava por garantido ao invés de menosprezar o que gente sábia me tentava transmitir. Posto isto, espero que os jovens de hoje em dia e de gerações futuras, consigam perceber o que eu percebi tarde demais.
Hoje acordei e pensei…
Tiago Esperanço, 10.º H
Às vezes não damos o devido valor às coisas que temos e a atualidade tem vindo a contribuir, cada vez mais, para a reflexão sobre a vida. Afinal o que esperamos dela? O que é que ela nos reserva?
O tema da guerra na Ucrânia tem sido uma constante, porque muita gente diz que o povo ucraniano está a sofrer. Mas, se pensarmos um pouco, vemos que imensos russos também são forçados a combater numa guerra que não escolheram, vendo-se obrigados a abandonar as suas casas e a matar em nome de um país que os deixou sem alternativas.
Por vezes não valorizamos coisas tão simples como o privilégio de acordar e ir para a escola, privilégio esse que foi retirado aos jovens dos países envolvidos neste conflito e que, por isso, levam uma vida de medo, angústia e totalmente incerta.
Quando ouço notícias sobre esta realidade, pergunto-me como é que estas pessoas lidam e sofrem diariamente vendo as suas famílias sendo destruídas e mortas de forma bárbara. As suas vidas ficam desfeitas, num abrir e fechar de olhos, a troco da teimosia dos chefes de Estado que não chegam a um consenso e teimam em levar as suas ideologias avante. Isto é a guerra!
Para concluir, todos deveríamos dar mais importância ao que temos e, acima de tudo, valorizar as coisas mínimas, aproveitando ao máximo cada momento, vivendo intensamente ao lado das pessoas que amamos, porque não sabemos se irão estar connosco por muito mais tempo… O futuro é incerto, mas o presente é para se viver! Já dizia Álvaro de Campos (heterónimo de Fernando Pessoa): “Sentir tudo de todas as maneiras, / Viver tudo de todos os lados,…”.
Aconteceu hoje...
Maria Magalhães, 10.º G
Hoje, dia 8 de novembro de 2022, parei um pouco para pensar no mundo à minha volta. Reparei que, presentemente, a pobreza é um fenómeno que afeta cada vez mais a população.
O que me fez pensar neste tema foi ter visto um senhor a dormir no chão, em cima de cartões, e com os seus pertences ao lado. Em casa, ao jantar, falei com os meus pais do que vi. Tivemos uma conversa e percebi que os preços dos bens estão cada vez mais altos e os salários não.
Este fenómeno afeta não só Portugal, mas também o resto do mundo. Temos como exemplo uma guerra aqui na Europa. Olho para a Ucrânia, um país em que, para além da destruição, as pessoas foram obrigadas a sair do conforto da sua casa, para salvar a sua vida e as que ficaram vivem em péssimas condições.
Para concluir, este assunto, infelizmente, será cada vez mais abordado nos tempos que correm. Nós devemos ajudar as pessoas no que pudermos e devemos saber dar valor às coisas que temos.
As particularidades de um bom livro
Margarida Cardoso, 12.º F
Cada leitor é particular sobre as suas leituras. Por alguma razão,
dá-me imenso prazer avaliar, minuciosamente, cada livro que leio e acabei,
assim, por criar um sistema constituído por um total de oito critérios,
aos quais atribuo uma pontuação de zero a dez. Por fim, calculo a média
das oito pontuações que resulta numa avaliação final.
Ao primeiro critério intitulei de “personagens” e não me parece
que seja necessário muito esclarecimento no que lhe diz respeito.
As personagens devem ter um desenvolvimento com nexo dentro da história
e este deve ser propositado. As personagens-tipo ou os “clichés” são, para mim,
na generalidade, um fator de insatisfação. Rapidamente se tornam desinteressantes, são previsíveis e pouco criativos. A construção das relações entre personagens são tão importantes quanto a construção das próprias.
O segundo parâmetro refere-se ao tema. Se o intuito é criar uma narração mais “leve”, uma fonte de entretenimento para simplesmente agradar, deve ser executado como tal. Tentativas de fazer de algo superficial mais profundo são capazes de arruinar um livro perfeitamente agradável. Pode ainda dar-se o caso de ser escolhido um tema e a abordagem ao mesmo não ser a melhor. Não nos devemos esquecer que a literatura é uma forma de arte e de expressão, pelo que deve haver alguma “espessura” e intimidade.
O terceiro parâmetro diz respeito à arquitetura, requerendo um bom esqueleto que suporte a narrativa. O autor deve saber onde quer chegar, uma vez que não deve haver incoerências nem contradições. Ouvi há algum tempo, não me recordo onde, que “escrever um livro é como construir uma casa” e considero que esta comparação sintetiza, perfeitamente, todo este parâmetro.
O quarto critério avalia o enredo, aquilo que nos prende à história. Este deve ser criativo na medida certa, tendo uma relação de dependência com a arquitetura. Este deve consistir numa cadeia de eventos, sendo que um afeta o seguinte, numa relação de causa-efeito, devendo ser interessante, distinto e inovador.
O quinto critério aborda a escrita. Esta está diretamente relacionada com o autor ou narrador. Que voz se faz ouvir? Existe, sequer, uma voz? A influência de um livro num leitor, a sua capacidade de o alterar, é transmitida pela escrita e pela linguagem. Este é um parâmetro muito intuitivo, baseado, sobretudo, em preferências pessoais.
O sexto parâmetro remete para a estética, que, uma vez diretamente ligada à escrita, é raro ser concretizada se a primeira não for bem executada. A estética constitui as “imagens” desenhadas pelas palavras, o ambiente construído, o contexto e o meio, não sendo este último necessariamente espacial. Embora a estética seja, normalmente, associada a juízos de valor, para mim, este parâmetro, reflete a concordância entre o meio, o enredo e o tema.
O sétimo parâmetro alude ao final do livro, sendo este um dos mais simples, a meu ver. Requer, simplesmente, um desfecho adequado. Se um livro caminha em direção de uma dada conclusão, o fim deve estar associado à mesma, embora fim e conclusão não sejam sinónimos em muitos casos. É comum livros acabarem em suspense, ou seja, requerem que o leitor tire as suas próprias conclusões; ou abrem caminho para uma sequela e, nesses casos, um fim não pede uma conclusão.
O oitavo e último parâmetro é absolutamente pessoal, referindo-se à aprazibilidade e sendo o mais subjetivo de todos, tem, na sua totalidade, a ver com a satisfação que ler certo livro trouxe ao leitor, se acrescentou alguma coisa à sua pessoa ou se faz o seu género de leitura.
Questiono-me
Tiago Silva,12.º B
Questiono-me quanto de mim já conheço
E o quanto de mim que não foi descoberto.
Será que alguma vez me verei completo e autêntico
Ou será que estamos destinados a não nos saber ao certo?
Se somos constantemente moldados pelo que nos rodeia,
Será que temos todo o poder sobre o que nos tornamos?
Talvez tenhamos que deixar o universo tecer-nos, como uma teia
E, com sorte, ainda possamos sentir que somos nós que nós criamos.
Não obstante as dúvidas existenciais,
Agrada-me a sensação de que me conheço cada vez mais.
Embora possa nunca me ver íntegro e, por vezes, não ter controlo do que passo
e no que me torno,
Fico satisfeito apenas com o conhecimento que vou assimilando
sobre mim e os outros,
não importa como.
Ler é uma tendência...
Leonor Sousa, 12.º B
O grau de diversão e prazer que advém dos livros é discutível. Polémico, até. Existem os leitores ávidos, claramente fãs que se divertem, e os que, independentemente de quererem ou não ler, pensam que é uma seca e não consegue avançar com a tarefa. E, assim, sobrevive o desacordo quanto ao gosto por livros.
Ora, é evidente que a experiência que cada um tem é afetada pelas obras que se estudam nas escolas, pelo que, quem só contactou com essas durante muito tempo e não lhes achou graça nenhuma, extrapola que não gosta de ler. É compreensível o cerne do problema é que estas obras são literatura não tão simples. Pelo contrário, muitas vezes são complexas e daí só as percebermos com ajuda. Um clássico, regra geral, é mais difícil de ler do que um best-seller do The New York Times. Por vários motivos: pode ser de época, o que é logo um berbicacho linguístico; pode ser muito extenso e descritivo, mesmo que feito de forma louvável (variadas vezes, os jovens não tendem a apreciar descrições, sejam elas bem ou mal feitas); e a lista perdura.
"Mas para que estudamos essas obras?! São sempre as mesmas e não precisamos delas para nada no futuro." Será melhor responder por partes. Em primeiro lugar, as obras que estudamos, estudamos porque são boas e, se os nossos pais e avós as conhecem, nós não temos necessária e geneticamente conhecimento a respeito delas incutido em nós. Então, se um livro fenomenal é um livro fenomenal, faz todo o sentido que no-lo introduzam. Ultrapassa gerações e tanto tem valor na geração dos nossos avós como na nossa. Pode, contudo, não se adequar à realidade vigente, daí ser-nos, por norma, facultada uma contextualização histórico-literária. Neste sentido, estudamos as invariáveis obras de sempre porque estão, de facto, bem escritas ou foram revolucionárias ou são tudo isto e um orgulho nacional, como Os Lusíadas (que parecem ser escritos num português "macarrónico", mas são merecedores da nossa atenção e esforço para entender a linguagem arcaica). E, entrando na segunda fase da resposta à pergunta, todos nos acrescentam algo.
Quanto mais não seja porque, como respondeu Imelda Marcos (viúva do ex-ditador das Filipinas, Ferdinando Marcos, conhecida por ter a maior coleção de sapatos do mundo) quando lhe perguntaram o porquê de, após ter reunido uma fortuna, ter começado a construir óperas, faculdades e monumentos gigantescos ao invés de acabar com a fome do povo (que vivia na miséria, porque as Filipinas tinham acabado de deixar de ser uma colónia), "o povo não se alimenta só de pão". O que é verdade. Também é verdade que convém ter o pão primeiro, mas a ideia de que nos devemos alimentar culturalmente é fulcral e, frequentemente, ignorada. Abrindo exceção para o caso de Imelda Marcos, que se preocupou com essa nutrição de forma cega, devota e extrema. Dito isto, o que estudamos em sala de aula acrescenta-nos bastante e desenvolve o nosso caráter, tornando-nos, por exemplo, pessoas mais conhecedoras, bem-falantes e, possivelmente, transformando-nos em humanos interessados e com vontade de conhecer mais.
É, também, importante acrescentar agora um terceiro grupo aos dois iniciais. O grupo de pessoas que se anda a esforçar para gostar de ler. Os que gostavam de gostar de ler. Nas redes sociais, já é possível constatar que a ideia de que os "nerds" é que leem muito e pessoas "fixes" estão demasiado ocupadas para isso está a ser aniquilada. Atualmente, o ato de ler é visto como algo apelativo, porque torna a pessoa que lê interessante e inteligente, ou, no mínimo, com ar disso. Deste modo, tem havido best-sellers que atingem esses números altos, porque foram bastante divulgados online, nomeadamente no "booktok" (secção do tiktok onde se recomendam e critica livros e que gira em torno desta nova tendência). Esses livros como têm, maioritariamente, uma escrita leve e enredo rápido, são fáceis de ler e, por isso, bons para incutir o gosto pela leitura. Se ler é uma tendência ou não, pouco importa, é uma forma de escape do que está ao nosso redor, tal como a tecnologia, todavia mais benéfica.
Boas leituras!
Estamos aqui, mas ali
Irene Ruas e Madalena Oliveira, 9.º B
Todos nós dizemos, mas nem sempre o fazemos. Estamos aqui, mas ali.
As pessoas são bem-intencionadas, com objetivos solidários e gentis. Mas nem sempre temos a cabeça no lugar certo, não prestando atenção, nem à sociedade, nem ao que acontece ao nosso redor. Esta canção refere-se a isso mesmo.
“Toda a gente quer fazer algo original, mas acabam por copiar, copiar o original.” Esta frase, afirmada na letra desta canção, explica o facto de as pessoas se focarem demasiado na inovação. Mas sem efeito. No final, de certa forma, acabam por copiar o que já existia.
Amar é a única palavra
que não tem uma definição
Giulia Miranda, 11.º B
Se amar é poesia, seria uma poesia sórdida, confusa, ou romântica?
Se amar for poesia, o autor diz a verdade sobre o amor
e a paixão em todos os versos,
e coloca todo o sentimento existente em seu coração nas linhas?
Se amar é poesia, haja palavras para descrever o que é amar.
Se amar é sentimento, seria adrenalina ou calmaria?
Se o amor fosse a adrenalina,
seria a adrenalina de entrar numa montanha russa de emoções,
ou a adrenalina de fazer algo proibido?
E se o amor fosse um sentimento, também poderia ser a perda de sentidos?
O amor está mais para uma alucinação do que para um sentimento,
uma droga que muda a nossa mente, a nossa perspetiva de vida e distorce a nossa realidade.
Amar tira a habilidade de respirar corretamente, tira o pensamento concreto,
e o tato sem ser na pele é insignificante.
No fim, se o amor for tudo isto, também pode ser cor.
O branco é a junção de todas as cores de luz do espectro de luz visível,
e não é isto que é o amor? A junção de todos os sentimentos, de todas as sensações,
de todas as dúvidas e ao mesmo tempo todas as respostas.
O amor não é comum, o amor é incerteza, é tudo ou não é nada, e não tem nada de comum.
No fim, também é contraditório,
e mesmo não sendo comum, é comum a todos os corpos e a todas as vidas.
O seu significado não é só um (e se fosse só um),
e como tenho a certeza que a definição que existe é a certa?
E se a definição que alguém sente, não for a resposta para o meu sentir?
Se o amor fosse concreto, tivesse só um significado, só uma comoção,
todas as almas que amam amariam o mesmo?
Mas, no fim, será algo tão mundano como um humano como eu
capaz de definir o que é amar?
Nem um dicionário é capaz de definir o que é amar.
Desculpa, sociedade...
Raquel Cordeiro, 9.º E
Desculpa por não ser aquilo que querias que fosse
Eu sou diferente dos outros
Ou talvez ainda não encontrei os que são iguais a mim
Talvez não seja tão imperfeita como me fazes pensar que sou
Talvez no mundo ideal
Os meus padrões possam ser diferentes dos teus
Se tu não fizesses tanta pressão sobre mim...
Talvez eu pudesse amar o meu corpo, mesmo com todas as suas imperfeições
Talvez eu pudesse falar com as pessoas, sem ter medo do que elas pensam de mim
Talvez pudesse ter pensamentos positivos sobre mim e sobre os outros
Talvez eu poderia ser melhor e não desiludir tanta gente
Não teria de olhar para as caras daqueles que magoei
E sentir que cada vez morro um pouco mais
Porque de cada vez que não consigo seguir os meus objetivos
Que não consigo fazer o que os outros esperavam de mim
Que não consigo sair da cama
De cada vez que sinto que estou a falhar
E que penso que a única razão para existir é magoar os outros
Tu vens e apunhalas-me
Olhas-me nos olhos
E dizes-me com toda a frieza
"Não vales nada"
E de todas as vezes
Eu acredito nas tuas palavras
Acredito que não valho nada
Acredito que sou só mais um caso perdido
Fazes-me acreditar que por eu ter uma família
Por ter uma casa
Por ter estabilidade financeira
Por ter tudo isso
Fazes-me acreditar
Que não sou digna de sofrer
Não sou uma candidata credível à ansiedade e depressão
Não tenho voz para desabafar sobre os meus problemas
Porque afinal
Tenho tudo
Mas afinal, o que é ter tudo?
É ter família, casa e dinheiro?
É ter milhões de amigos?
É ter sucesso?
É isso que é ter tudo?
Se tu não existisses
Ter tudo era ter amor
Era ter amigos que nos amam independentemente de todas as nossas falhas
Era podermos falar abertamente dos nossos problemas
Sem sermos julgados
Se tu não existisses
Podíamos todos ser a melhor versão de nós mesmos
Podíamos ter a felicidade um pouco mais perto de nós...
Mas tu não deixas
Para ti não podemos ser iguais
Para ti
Pessoas brancas estão acima de pessoas de cor
Homens têm mais poder que mulheres
Pessoas ricas têm mais oportunidade que pessoas pobres
Adultos são mais dignos de respeito do que crianças
Para ti alguém tem de estar acima de outro alguém
Porquê? Pergunto eu
Porque é que aos teus olhos
Não podemos estar ao mesmo nível
E mesmo assim sermos diferentes?
É só o que me pergunto
Mas no fim do dia
És tu o manual que as pessoas seguem para viver
És tu que nos dizes como existir
És tu que se proclama como sendo: "A sociedade atual"
Que prefere vidas e sorrisos falsos
Do que sentimentos verdadeiros
Por no final do dia
És tu que decides.
Saudade de algo
até então esquecido
Tomás Silva, 9.º D
Aconteceu hoje… Lá estava eu, relaxado no sofá, a ver um canal
qualquer, quando o apresentador do programa começou a falar
acerca do campo, captando a minha atenção. À medida que o
homem falava, eu tinha a sensação de esse assunto não me ser estranho, interessando-me ainda mais. Até que, subitamente, desencadeou em mim uma memória já bem enterrada no esquecimento.
Não foi uma viagem ao Algarve, ou à Serra da Estrela, ou até mesmo a Lisboa, mas, sim, uma viagem a Penela. Para quem está fora do assunto, Penela é uma vila portuguesa no distrito de Coimbra, na província da Beira Litoral. Foi aí, em 2015, que os meus pais, eu, o meu irmão e mais dois casais amigos, estivemos num hotel em que pudemos usufruir quer das instalações, que só por si eram modernas, quer do campo à sua volta. Tenho desse hotel as memórias mais preciosas da minha vida, desde jogar às cartas a fazer festas a um burro, coisas tão simples, mas que para o Tomás de 7 anos seriam memoráveis.
Como é obvio, o tempo foi passando e quatro de nós os seis (filhos) já estão na universidade, portanto deixaram de aparecer nestas férias em conjunto. Estes encontros ainda são feitos e a "gente" diverte-se à brava, mas nada substituirá os bons velhos tempos de criança.
Perspetivas
Carolina Branco Pires,12.º B
Hoje, enquanto tomava banho em casa dos meus avós em Trás-os-Montes, a caldeira avariou e só saía água gelada. Fiquei genuinamente irritada, pensando que pouco seria pior do que tomar um banho de água fria num dia de temperaturas a rondar 0ºC.
No entanto, coincidência ou não, depois deste sucedido, e enquanto me entretinha com a leitura do livro A Coragem de Cilka, deparei-me com uma passagem que descrevia a entrada das personagens num campo de trabalhos força dos na Sibéria, próximo do Círculo Polar Ártico. As prisioneiras chegaram em pleno inverno, com temperaturas mínimas que podem chegar aos 50ºC negativos, sendo recebidas com um banho gelado e obrigadas a andar descalças na neve, apenas com uma toalha traçada, até ao local onde se poderiam vestir.
Ao refletir sobre isto, apercebi-me que a minha irritação anterior tinha sido, em parte, egoísta e inconsciente.
Não me tinha ocorrido, até então, que muitas das noções que damos como adquiridas e que fazem parte do nosso dia a dia, como abrir uma torneira e sair água quente, ou até mesmo água, serão luxos inacessíveis para muitas populações em diversas partes do mundo.
Queria então salientar que somos rápidos a censurar aquilo que, para nós, está menos bem e nos esquecemos de apreciar o bom que a vida nos dá. Já aqueles que vivem com o mínimo ficam extremamente felizes com pequenos gestos que a nós, quando nos faltam, é como se o mundo desabasse.
Da próxima vez que pensares que a tua vida não está a correr da forma como preferias, lembra-te onde vives e de todos os privilégios que dás como adquiridos e que para muitos não o são.
Particularidades de um bom livro
Leonor Sousa, 12.º B
Cada leitor é particular sobre as suas leituras. Por alguma razão, dá-me imenso prazer avaliar, minuciosamente, cada livro que leio e acabei, assim, por criar um sistema constituído por um total de oito critérios, aos quais atribuo uma pontuação de zero a dez. Por fim, calculo a média das oito pontuações que resulta numa avaliação final. Ao primeiro critério intitulei de “personagens”e não me parece que seja necessário muito esclarecimento no que lhe diz respeito. As personagens devem ter um desenvolvimento com nexo dentro da história e este deve ser propositado. As personagens-tipo ou os “clichés” são, para mim, na generalidade, um fator de insatisfação. Rapidamente se tornam desinteressantes, são previsíveis e pouco criativos. A construção das relações entre personagens são tão importantes quanto a construção das próprias. O segundo parâmetro refere-se ao tema. Se o intuito é criar uma narração mais “leve”, uma fonte de entretenimento para simplesmente agradar, deve ser executado como tal. Tentativas de fazer de algo superficial mais profundo são capazes de arruinar um livro perfeitamente agradável. Pode ainda dar-se o caso de ser escolhido um tema e a abordagem ao mesmo não ser a melhor. Não nos devemos esquecer que a literatura é uma forma de arte e de expressão, pelo que deve haver alguma “espessura” e intimidade. O terceiro parâmetro diz respeito à arquitetura, requerendo um bom esqueleto que suporte a narrativa. O autor deve saber onde quer chegar, uma vez que não deve haver incoerências nem contradições. Ouvi há algum tempo, não me recordo onde, que “escrever um livro é como construir uma casa” e considero que esta comparação sintetiza, perfeitamente, todo este parâmetro. O quarto critério avalia o enredo, aquilo que nos prende à história. Este deve ser criativo na medida certa, tendo uma relação de dependência com a arquitetura. Este deve consistir numa cadeia de eventos, sendo que um afeta o seguinte, numa relação de causa-efeito, devendo ser interessante, distinto e inovador. O quinto critério aborda a escrita. Esta está diretamente relacionada com o autor ou narrador. Que voz se faz ouvir? Existe, sequer, uma voz? A influência de um livro num leitor, a sua capacidade de o alterar, é transmitida pela escrita e pela linguagem. Este é um parâmetro muito intuitivo, baseado, sobretudo, em preferências pessoais. O sexto parâmetro remete para a estética, que, uma vez diretamente ligada à escrita, é raro ser concretizada se a primeira não for bem executada. A estética constitui as “imagens” desenhadas pelas palavras, o ambiente construído, o contexto e o meio, não sendo este último necessariamente espacial. Embora a estética seja, normalmente, associada a juízos de valor, para mim, este parâmetro, reflete a concordância entre o meio, o enredo e o tema O sétimo parâmetro alude ao final do livro, sendo este um dos mais simples, a meu ver. Requer, simplesmente, um desfecho adequado. Se um livro caminha em direção de uma dada conclusão, o fim deve estar associado à mesma, embora fim e conclusão não sejam sinónimos em muitos casos. É comum livros acabarem em suspense, ou seja, requerem que o leitor tire as suas próprias conclusões; ou abrem caminho para uma sequela e, nesses casos, um fim não pede uma conclusão. O oitavo e último parâmetro é absolutamente pessoal, referindo-se à aprazibilidade e sendo o mais subjetivos de todos, tem, na sua totalidade, a ver com a satisfação que ler certo livro trouxe ao leitor, se acrescentou alguma coisa à sua pessoa ou se faz o seu género de leitura.
Queimar etapas
Tiago Silva, 12.º B
Atualmente, vivemos num mundo cada vez mais dependente da tecnologia. Não só nós dependemos dela, como confiamos nela. Fornecemos à internet informações pessoais, partilhamos as nossas vidas e um pouco de quem somos, ou de quem gostaríamos de ser. De qualquer das formas, é visível o quão a internet está envolvida nas nossas vidas.
Dito isto, seria de prever que fosse escrever acerca deste tópico. Mas não. Creio, no entanto, que o tópico sobre o qual vos vou escrever esteja intimamente relacionado com o que acabei agora de afirmar.
Todos os dias somos bombardeados e estimulados por dezenas de informações e notícias, uma grande parte destas proveniente da internet. Os media são importantíssimos, não quero ser mal interpretado no que escrevo. Todavia, são também os media que selecionam e filtram cautelosamente aquilo que vemos diariamente.
As notícias, para que sejam apelativas, apenas nos apresentam aquilo que é extraordinário, fora do comum. Crianças de 10 anos que já fizeram mais do que grande parte das pessoas farão numa vida inteira, ou pessoas com habilidades completamente fora do normal, e que viverão para alcançar grandes feitos. Empresários, ativistas, atletas, investigadores. Todas elas pessoas que parecem prosperar na vida, que parecem ter todos os seus problemas resolvidos.
Com a partilha incessante deste tipo de conteúdo, o extraordinário passa a parecer ordinário. Começamos a ser programados para pensar que aquilo que vemos nas notícias pode e deve estar ao nosso alcance, e que para termos sucesso teremos que ser os melhores, teremos que ser extraordinários.
É exatamente por isso que eu acredito que, cada vez mais, sentimos a necessidade de tentar encontrar “atalhos”, principalmente as gerações mais recentes, que desde que aprendem a ler começam a ser confrontadas com este paradigma, que se baseia na ideia de que apenas a ser “melhor” que o próximo é que se tem êxito.
Parou de haver espaço para o fracasso, e para a posterior recuperação. Temos que ter sucesso e ser produtivos, sempre, senão seremos um falhanço e ficaremos para trás na vida. Este tipo de pensamento é perigoso, e claramente não levará ninguém pelo caminho pretendido.
Por mais que a iniciativa e a proatividade sejam características que considere importantes em alguém que pretenda ter sucesso (seja qual for a definição de sucesso para a pessoa em questão), devemos igualmente passar pelas etapas necessárias para lá chegar. A impaciência não é uma dádiva e, mais uma vez, não creio que leve ninguém pelo caminho correto.
Como diz o antigo ditado popular “Quanto mais depressa, mais devagar”. Penso que devemos concentrarmo-nos no rumo que queremos seguir e como o queremos seguir, e parar de o comparar ao dos outros. Assim, poderemos chegar mais longe, e ao nosso tempo.
O Problema do Mal
Alexandre Ribeiro; Dinis Burovetskyy;
Nelson Ramos; Rodrigo Fonseca e Emilly Souza, 11.º C
A existência de mal, no mundo, é inexorável. Sem embargo, pode fazer-se a dicotomia entre o mal moral – concatenado à ação humana – e o mal natural – que não é ocasionado pelo ser humano, como as catástrofes de pendor natural. O mal moral é perfeitamente ubíquo, pois, nas escolas, todos os dias se pode constatar picardias e desavenças entre alunos, que despoletam o bullying, causa de grande sofrimento para uma multiplicidade de pessoas. Outros exemplos deste tipo de mal são a violência doméstica e o abuso infantil, patenteado quando as crianças são espancadas e violadas. O mal natural, malgrado não tão frequente, tem o potencial para ser lidimamente devastador, como retratam, a título de exemplo, as erupções vulcânicas.
Outro tipo de mal natural são as doenças de foro genético, que não são causadas, diretamente, pela ação humana. Esta pluralidade de males incita um problema aos sujeitos que acreditam no teísmo clássico, que retrata um Deus que é maximamente perfeito, sendo, por isso, omnipotente, omnisciente, e sumamente bom. Ao ser omnipotente, Deus pode transmutar qualquer estado de coisas, logicamente verosímil que seja consistente com a sua essência; ao ser omnisciente, Deus sabe tudo o que é logicamente possível saber; e, sendo sumamente bom, Deus age soberanamente em total conformidade com as normas morais. As três cardeais religiões abraâmicas – judaísmo, cristianismo e islamismo – preconizam que há um tal Deus teísta. Nada obstante, haverá, realmente, um tal Deus teísta?
No século IV a.c., o egrégio filósofo helénico Epicuro de Samos formulou o chamado Problema do Mal de uma forma deveras interessante:
«As velhas questões de Epicuro continuam por responder. Quer Ele [Deus] impedir o mal, mas não é capaz? Então é impotente. É capaz, mas não quer? Então é malévolo. Não só é capaz, como quer? Então, de onde provém o mal?». (David Hume, ibid., pp. 105-106 (adaptado))
A lógica do paradoxo proposto por Epicuro toma três características do Deus judaico – omnipotência, omnisciência e omnibenevolência – como, caso verdadeiras aos pares, excludentes de uma terceira. Id est, se duas delas forem verdade, excluem, automaticamente, a outra. Está-se, destarte, perante um trilema. Isto é relevante, pois, caso seja incongruente que um destes atributos seja verdadeiro, então não é concebível uma conjuntura em que um Deus com as três exista.
1) Enquanto omnisciente e omnipotente, tem conhecimento de todo o mal e poder para o dirimir. Todavia, não o faz. Então, não é omnibenevolente. 2) Sendo omnipotente e omnibenevolente, tem a capacidade de extinguir o mal e quer fazê-lo, pois é sumamente bom. Contudo, não o faz, porquanto não sabe o quanto mal existe e onde reside. Logo, Ele não é omnisciente. 3) Na qualidade de omnisciente e omnibenevolente, sabe de todo o mal que existe e quer alterá-lo. Porém, não o faz, porque não é capaz. Por conseguinte, ele não é omnipotente.
Epicuro não era ateu; apenas rejeitava a ideia de um Deus preocupado com os assuntos humanos. Tanto o filósofo quanto os seguidores da sua doutrina, o Epicurismo, negavam a ideia de que não existia um Deus.
O Problema do Mal é o antagonismo entre a presumida existência de uma entidade sumamente boa (omnibenevolente), omnissapiente, omnipotente e criadora, por um lado, e a existência de mal, supostamente, gratuito. Presumivelmente, há males gratuitos e sem sentido, como doenças terríveis, e parece coerente considerar que uma pessoa divina e sumamente boa não quer que tais males existam; não obstante, se é omnisciente, sabe que existem, e se é omnipotente, prima facie se reputa, facilmente, que conseguiria eliminá-los, se o intentasse, ou conseguiria ter concebido o Universo de maneira a que não ocorressem. Parece, assim, que ou não existe uma divindade teísta, ou os males não são gratuitos. Um mal é gratuito quando não serve qualquer finalidade suficientemente boa que o compense – compensaria, verbi gratia, na fisioterapia, quando o atleta tem que fazer movimentos dolorosos, mas necessários para a cura.
«Um mal sem sentido é um mal que Deus (caso exista) poderia ter impedido sem, com isso, perder um bem superior, ou ter de permitir um mal equivalente, ou pior.» (William Rowe, ibid., p. 181 (adaptado)
Parece inverosímil que um Deus omnipotente e omnibenevolente permite males sem sentido e, como tal, duvida-se que exista um Deus omnipotente e sumamente bom. Quiçá não exista nenhum Deus ou, pelo menos, não exista o Deus teísta.
«Provavelmente, há males sem sentido.
Se Deus existe, não há males sem sentido.
Logo, Deus provavelmente não existe.» (William Rowe, ibid., p. 181 (adaptado))
Será, no entanto, este argumento sólido?
Muitos filósofos, incluindo o ínclito Professor Catedrático emérito Richard Swinburne, britânico, julgam que não, uma vez que consideram que a primeira premissa é falsa. Não negam que existem males no mundo, mas não consideram que são sem sentido – isto é, pensam que Deus tem boas razões para permitir a sua existência.
«O mundo contém muito mal. Um Deus omnipotente poderia ter evitado este mal – e sem dúvida que um Deus sumamente bom e omnipotente o teria feito. Sem embargo, então, porque existe este mal? Não será a sua existência um forte indício contra a existência de Deus? Sê-lo-ia, sem dúvida – a menos que possamos construir o que é conhecido por teodiceia, uma explicação da razão pela qual Deus terá permitido que o mal ocorresse.»
(Richard Swinburne, Será que Deus Existe?, Gradiva, Lisboa, 1998, p. 109)
Gottfried Wilhelm Leibniz (considerado um dos mais importantes matemáticos de sempre, ao lado de Leonhard Euler, tendo, também, contribuído para o campo da Metafísica, na Filosofia) introduziu o termo «teodiceia» a partir das raízes gregas teo, «Deus», e dikê, «justiça». Uma teodiceia é uma acometida de mostrar que a justiça divina é coadunável com o mal. Ora, Leibniz considera que, da conceção teísta de Deus, se arrazoa, corretamente, que esta é uma divindade irreprochavelmente perfeita: é maximamente grandioso, como já Anselmo (Anselmo de Cantuária foi um filósofo borgonhês do século XI) pensava. Contudo, Leibniz tem plena consciência de que nem sempre há uma grandiosidade máxima, ou absoluta, tal como, outrossim, não existe um número par que seja o maior de todos. Nada obstante, ele pensa que a divindade teísta tem, nesse grau máximo, todas as características que não é contraditório considerar que têm um máximo.
Esta ideia leibniziana é a de que não há um número par que seja o maior de todos, porquanto a consideração dessa conjetura celeremente conduz a uma contradição. Imagine-se que n é, por definição, esse tal número par maior de todos. Considerando-se n + 2, constata-se que é outro número par, certamente, e ainda maior do que n. Portanto, n é e não é o maior de todos. Chega-se a uma contradição, o que significa que a conjetura inicial era falsa – não existe um número par maior que todos os outros. Porém, Leibniz pensa que, noutros casos, como no conhecimento, não se chega a esta contradição. O famigerado matemático teutónico julga que a hipótese de um conhecimento maior que qualquer outro que pode ser pensado não conduz a uma contradição – e, por isso, existe esse conhecimento máximo. Esta é precisamente uma das características da divindade teísta – é omnisciente, em absoluto, no sentido de ter o conhecimento mais perfeito ou completo de todos. Eis as palavras do próprio Leibniz:
«A noção de Deus mais comummente aceite e a mais significativa que temos expressa-se muitíssimo bem nestes termos: que Deus é um ser absolutamente perfeito; mas as consequências disto não foram suficientemente bem pensadas. Para ir um pouco mais longe é de notar que há várias perfeições completamente diferentes na natureza, que Deus as tem todas em conjunto, e que cada uma lhe pertence no mais alto grau. É também necessário entender o que é uma perfeição. Eis um indicador fidedigno: uma forma ou natureza que não possa ser tomada no seu mais elevado grau não é uma perfeição — por exemplo, a natureza do número ou da figura. Pois o maior de todos os números (ou melhor, o número total de todos os números), tal como a maior das figuras, implica uma contradição, ao passo que o maior conhecimento, e omnipotência, não envolvem qualquer impossibilidade. Logo, o poder e o conhecimento são perfeições, e na medida em que pertencem a Deus, são ilimitadas.»
(Gottfried Leibniz, Discurso de Metafísica, Edições 70, Lisboa, 1995, pp. 11-13 (adaptado))
Destarte, Leibniz considera que a divindade teísta tem, no máximo grau, todas as características que é logicamente possível ter, nesse grau. Não tem, no máximo grau, a característica de ter a maior dimensão, porque é contraditório pensar que uma entidade seja a maior de todas as possíveis – há sempre outra entidade possível ainda maior. No entanto, Deus tem o poder, o conhecimento e a bondade no maior grau porque, julga Leibniz, não é contraditório imaginar tal coisa.
Justamente porque Deus é perfeito, o Universo que gerou é o melhor de todos os possíveis. É isso que significa a sua conhecida expressão «O melhor de todos os mundos possíveis». Leibniz pensa que o Universo que Deus criou é o melhor que poderia ser criado, precisamente porque Deus é perfeito: é omnipotente, e por isso pôde criar o melhor Universo; é omnisciente, e por isso sabia como criá-lo; e é sumamente bom, e por isso queria criar o melhor Universo. E, por conseguinte, criou-o.
Como explicar, porém, a existência de males aparentemente gratuitos?
Leibniz considera que os males que nos parecem gratuitos não o são, de facto. São características indicotomizáveis de bens que Deus providencia. Do mesmo modo que Deus não pode fazer o maior número par – porque isso é logicamente impossível –, também não pode criar um universo maximamente perfeito, sem criar, ao mesmo tempo, coisas que, aos nossos olhos, aparentam ser males gratuitos, apesar de não o serem, na realidade.
Em suma, Leibniz considera que não há, afinal, qualquer mal gratuito. Os muitos males que parecem fazer parte do Universo são, efetivamente, constituintes de bens muitíssimo mais importantes. Leibniz admite, portanto, que existem males, mas rejeita que sejam gratuitos – e é por isso que são compossíveis com a bondade, omnipotência e omnisciência de uma entidade divina, que criou o Universo e tudo o que ele contém. Contudo, o conhecimento imperfeito dos seres humanos não lhes outorga a capacidade de ver a completude do Universo, e, por isso, não vêm os bens associados aos males a que assistem; e é por isso que lhes parece, erroneamente, que são gratuitos.
Uma parte indispensável da bondade que Deus escolheu, ao criar o mundo, foi a existência de seres racionais: seres autoconscientes, capazes de amor e pensamento abstrato, e com a faculdade de livre escolha, entre cursos de ação alternativos contemplados. Essa última característica dos seres racionais, a livre escolha ou livre-arbítrio, é um bem. Porém, mesmo um ser omnipresente é incapaz de controlar o exercício do poder de livre-arbítrio, já que uma escolha que fosse controlada não seria, ipso facto, livre. Em outras palavras, se eu tenho uma livre escolha entre x e y, nem mesmo Deus pode garantir que vou escolher x.
Pedir a Deus que me dê livre escolha entre x e y e que garanta que eu escolha x, em vez de y, é pedir que Deus realize o intrinsecamente impossível: é análogo pedir-lhe que crie um quadrado redondo, um ser material sem forma ou um objeto invisível que projete uma sombra. Tendo esse poder de livre escolha, alguns seres humanos utilizaram-no para mal e produziram uma certa quantidade de mal. No entanto, o livre-arbítrio é um bem suficientemente grande para que sua existência sobrepuje os males que têm resultado e que resultarão do seu abuso: e Deus terá previsto isso.
O primeiro obstáculo da posição de Leibniz é que a sua resposta ao Problema lógico do Mal se limita a explicar genericamente, e não em particular, como os males são comportáveis com a divindade teísta. Considere-se um caso particular de sofrimento: uma criança, de cinco anos, com uma doença grave e incurável, morre, depois de dois anos de sofrimento intenso. Não só sofreu ela, como sofreram os pais e familiares da criança, assim como os seus amigos; ademais, foram gastos recursos colossais, que poderiam ter sido utilizados para elaborar coisas criativas, como pintar quadros, praticar desportos ou compor sonatas. Leibniz não nos diz, em pormenor, qual é o bem maior do qual todo este sofrimento é uma componente precípua. Como é natural, podemos imaginar alguns desses bens: o estoicismo da própria criança, a abnegação dos pais e familiares, o profissionalismo e empatia solene dos médicos e enfermeiros. Contudo, é, pura e simplesmente, falso que, do nosso ponto de vista, estes bens superem o mal daquele sofrimento – basta pensar que nenhum progenitor, ma condição de não ser perverso, assomaria aquela doença execrável no seu filho, só porque daí resultariam alguns bens.
Esta dificuldade, porém, tem uma resposta óbvia, por parte de Leibniz. É perfeitamente manifesto que não sabemos, em pormenor, quais são os bens maiores que fazem parte dos males que nos parecem gratuitos, diria ele; não o sabemos porque somos limitados. Porém, dado que se prova, facilmente, que a divindade teísta é logicamente antagónica com males gratuitos, levar a sério a existência dessa divindade obriga o sujeito a levar a sério a ideia de que não há, lidimamente, males gratuitos. Esta ideia tem de ser seriamente considerada, por mais que isso aparente ser estranho e por mais que sejamos incapazes de explicitar, meticulosamente, que bens são esses que são constituídos por males, aparentemente, gratuitos. Tem de ser tomada sisudamente, dado que não há outra forma de tornar a divindade teísta compatível com o mal.
A primeira dificuldade recebe uma resposta manifesta, e perfeitamente razoável, mas acaba por suscitar uma objeção muitíssimo mais significativa e, aparentemente, fatal.
Muito lhanamente, Leibniz reputa que somos demasiado limitados para saber, com minúcia, quais são os bens que extrapolam e tornam impreteríveis os males evidentes. Entretanto, se somos limitados para saber isso, também somos limitados para saber se Deus existe ou não. É improcedente, ou pelo menos arbitrário, aceitar que não existe a possibilidade de erro, quando se considera que sabemos que Deus existe, mas que somos sobremaneira limitados para saber quais são os bens que conferem sentido aos males e os dirimem. Ou somos demasiado limitados nos dois casos, ou em nenhum, porque é tão difícil saber se Deus existe, como difícil é saber quais são os bens que suplantam e revogam os males evidentes, caso Deus exista.
Enfim, a resposta de Leibniz ao Problema do Mal parece epistemologicamente incoerente ou, no mínimo, arbitrária.
A resposta de Leibniz ao Problema do Mal está longe de ser cabal. Mostrar a compatibilidade lógica entre a existência de males, aparentemente gratuitos, e a existência da divindade teísta é um exercício frívolo, porquanto, com suficiente imaginação, se consegue defender que quaisquer dois objetos, aparentemente incompatíveis, são, afinal, perfeitamente compatíveis. Quem quiser continuar a insistir que a Terra está imóvel, no centro do Universo, consegue continuar a insistir que as observações e medições, aparentemente incompatíveis, com essa conjetura são, afinal, perfeitamente compatíveis. É inescusável ter a boa vontade de considerar as duas hipóteses de modo imparcial, para determinar, então, qual é a mais razoável, face ao que sabemos ou temos boas razões para pensar que sabemos. Foi precisamente isso que Gottfried Leibniz não fez.
Webgrafia:
https://filosofianaescola.com/metafisica/o-problema-do-mal/ Domingos Faria. Problema do Mal. In Compêndio em Linha de Problemas de Filosofia Analítica (2020), Ricardo Santos e Pedro Galvão (eds.), Lisboa: Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Problema_do_mal
https://pt.wikipedia.org/wiki/Paradoxo_de_Epicuro
https://estadodaarte.estadao.com.br/leibniz-e-o-problema-do-mal/
https://bdm.unb.br/bitstream/10483/2779/1/2011_AdebolaHakeemAdeyemi.pdf Van Inwagen, Peter. The Problem of Evil. Oxford: Clarendon Press, 2006
Dúvida Metódica: Filosofia, 11º ano / Sara Raposo, Carlos Pires; consultor científico André Barata - 1ª ed. - [S.l.]: Texto, 2022 - ISBN 978-972-47-5698-1.